... "Ah vira, virou
Meu coração navegador
Ah gira, girou
Essa galera
Voa, voa que eu chego já" ...
A poesia de Kleiton e Kledir embalou a minha semana, a limpeza das gavetas, a seleção daquilo que ainda importa e do que não importa mais. A vida é cheia de idas e vindas. Atracamos em diferentes portos por tempos variados. Saber a hora de zarpar e prosseguir a viagem na busca de novas descobertas e caminhos, requer atenção e observação do navegador. A decisão de ficar ou partir nem sempre é fácil. Requer habilidade para lidar com os vendavais e os temporais evitando naufrágios inesperados.
A vida profissional pode ser comparada a uma longa viagem. Durante a permanência nos portos, o navegador conhece diversas pessoas. Por umas se apaixona. De outras se afasta. Age, interage e reage aos acontecimentos. A partida deixa amores vazios, mas também alívio, certeza e desejo de novas descobertas. Gira, gira a galera. Içar a âncora e desenrolar as velas dos mastros se misturam a um turbilhão de lembranças, de fatos e de pessoas. Algumas sofridas, mas a maioria realizadora e alentadora, capazes de trazer paz ao coração ansioso com o que vem pela frente. Navegar é preciso! Se manter no controle da nau é essencial. O vento não pode ser o comandante. Há o risco dele nos direcionar à terras perigosas nas quais habitam monstros que corroem a alma e devoram a alegria. Hidras de sete cabeças, sereias encantadoras, monstros gigantes. Emaranhar-se com um destes seres pode levar a redemoinhos que conduzem à profundezas sem fim.
Depois de 35 anos de dedicação a UFSM, resolvi que minha nau deve buscar novos portos, novos desafios. O momento é de navegar em águas mais calmas, pois a rota foi planejada, simulada e escolhida. Não é fácil, mesmo assim é hora de levantar âncora. São muitas lembranças. Foram muitas experiências de vida. Foram muitas pessoas. Muitas permanecerão instaladas no cantinho mais amoroso do coração. Foram muitas trocas. Foram muitos sorrisos. Outros tantos abraços. Foram muitas lágrimas de alegria. Outras de tristeza e decepções. Foram muitas palavras ditas e ouvidas. Umas vibrantes e apaixonadas. Outras nem tanto. No instante da partida, este turbilhão de sentimentos vem como um filme. Nada mais alentador do que receber o abraço carinhoso daqueles que guardam os aprendizados e os momentos compartilhados como inspiração para o seu futuro.
Marcar, inspirar e dar exemplos comprovam que a jornada não passou em branco e valeu a pena. Colorir e perfumar a vida foram e continuam sendo propósitos. Plagiando Fernando Pessoa, tudo valeu a pena, pois a alma não é pequena. Chegou a hora da partida. Gratidão aos colegas, aos amigos, aos alunos, às oportunidades, ao crescimento, à ampliação de visão, aos aprendizados, enfim, aos momentos e à dedicação a UFSM. Navegar é preciso. Espera que eu chego já.